Música Popular Brasileira

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quarta-feira, 7 de julho de 2010

O ESTRAGO

Brava Gente Brasileira, tudo bem?

Hoje retomarei a questão dos preconceitos com os quais julgamos a África.
Já botei alguns mitos por terra. Um deles, já citado superficialmente em texto anterior, fala do equívoco que é considerarmos que aqui a língua oficial seja o Inglês. Aqui ninguém fala tal língua. A não ser que consideremos que alguém que, quando por nós interpelado, nos responda com um “oquê, ouraitiiiii” esteja falando inglês, o que considero muito pouco provável. Outra questão interessante é a moeda local, o Rand.
Nunca vai para o plural. É 1 Rand, 200 Rand, etc. Acredito que julguem ser moeda de tão pouco valor que não vejam sentido em considerá-la plural, seja na quantidade que for. Pode ser 1, 18, 437, 2.521, tudo é pouquinho, pra que gastar plural sem necessidade? Boa medida. Outro fator que notamos, sem o menor esforço, é o estrago causado por aqui, no passado, pelas potências colonialistas. E olha que estou em Johannesburg, a “capital financeira” da África do Sul. Numa realidade muito diferente de quase todo o resto da África. Estamos numa pequena ilha de população predominantemente branca, de altíssimo poder aquisitivo, cercada de uma imensa população predominantemente negra e inacreditavelmente miserável, em todos os sentidos. O que vemos nos jornais de TV sobre a periferia da cidade e o interior do país é impressionante. E a maneira como eles próprios percebem a si mesmos é coisa perturbadora. Ao final da partida entre África do Sul e Uruguai, que terminou com a vitória uruguaia por 3 X 0 e jogou um lago de água fria no povo, estávamos, eu e Paulo Senise, diretor do Rio Convention e o articulador do Botequim do Rio, distribuindo aos garçons da casa umas camisas do time brasileiro e o Paulo, percebendo a tristeza em seus semblantes, comentou com um deles que ainda haveria mais um jogo, os Bafana ainda teriam chance. O rapaz, um dos mais introvertidos do bar, daqueles que mal conseguem nos olhar nos olhos, apontou com o indicador para a própria cabeça e respondeu: “We don’t have understanding, capacity”. Ficamos os dois calados um tempo, perplexos com o que acabáramos de ouvir. Foi quando o Paulo respirou fundo e me perguntou: “vamos tomar um vinhozinho”? Aceitei a sugestão e ele, se dirigindo ao mesmo garçom, solicitou meia garrafa de um vinho X e duas taças. O garçom explicou que não seria possível, que o bar já estava fechado. Paulo, mais uma vez, respirou fundo e falou: ‘então nos traga uma garrafa inteira”. No que fomos prontamente atendidos.

O estrago foi maior do que podemos supor. Muito maior.

Wilson Nunes.
Johannesburg, 17 de Junho de 2010.

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