Música Popular Brasileira

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MPB

domingo, 11 de julho de 2010

AFINAL A FINAL

Brava Gente Brasileira, tudo bem?

Hoje falarei sobre futebol.

Tentei fugir do tema, mas acabei sucumbindo.

Já temos uma final. Espanha X Holanda, o que é um sintoma inequívoco de que esse torneiozinho medíocre está chegando ao fim.

Já fui um apaixonado por esse esporte. Desses de ler tudo que os jornais publicavam a respeito. De não perder jogos, ao vivo ou no radinho de pilha. De religiosamente comprar e devorar a ‘Revista do Esporte’. De saber de cor a escalação do Ferroviária de Araraquara, por aí. E de, principalmente, amar o Fluminense Football Club, tal e qual meu pai me ensinou.

Hoje, e digo isso sem nenhuma satisfação, pouco resta desse sentimento. Parece que alguma coisa mudou muito. Ou no futebol, ou em mim. Provavelmente nos dois.

O problema maior que me leva a tamanho descaso não é propriamente o tipo de futebol que hoje se pratica, mas o que ocorre, o tempo todo, fora das quatro linhas. Os fatores extra campo determinam hoje de tal forma o que acontece dentro dele que, para mim, a coisa vem perdendo a graça, se é que ainda tem alguma. Virou meramente um grande negócio. E dos péssimos.

Bons investimentos costumam gerar benefícios. Não é o caso. Trata-se de negócio dos mais capengas. Quase sempre realizado por uma corja mal intencionada de incompetentes que, se aproveitando da imensa energia que ainda emana de nossas paixões, vão manipulando-as sem o menor escrúpulo, enquanto enchem os bolsos de dinheiro, mesmo que para isso sejam sacrificados os clubes que fingem dirigir.

A rapaziada perdeu a noção. Quem conhece um pouco dos bastidores de nosso futebol vive se surpreendendo com o vale tudo instaurado. Literalmente, ninguém está nem aí.

Outro dia, assistindo um Fla X Flu, um dos 45 que costumam ocorrer por ano hoje em dia, olhando o dois times me veio a idéia de que, daqui há um ano, todos os jogadores de um time poderiam estar no outro, sem problema algum. No caso, por qual dos dois que eu deveria passar a torcer? Por tradição, para o da camisa verde, branca e grená, ou para os jogadores que me habituei a admirar e estarão todos no outro time? O desvinculo entre atleta e clube é total.

Ao contrário de meu pai, eu não sei o que dizer aos meus filhos. Não encontro nenhum argumento razoável para seduzi-los a torcer pelo Flu, nem por time nenhum.

Me lembro do saudoso Carlos Castilho, talvez o maior goleiro que já tenha passado pelo tricolor que, no auge da carreira, esmagou o dedo mindinho da mão esquerda. Ao saber pelo médico do clube que a recuperação implicaria em quase 6 meses sem poder jogar e ter do mesmo a afirmação de que cortando a ponta do dedo ela seria muito mais rápida, optou pelo corte, jogando por isso, pelo resto de sua longa carreira, de luvas. É claro que isso é uma atitude extrema. Não considero que todo atleta tenha a obrigação de agir desse modo, mas o caso dá uma dimensão do que representava para um jogador atuar por um grande clube de futebol. Nos dias atuais algo do gênero seria impensável.

Ninguém que jogue em algum clube o faz por devoção ou, pelo menos, afinidade. Está ali por mera oportunidade. E, provavelmente, o que mais quer é ser vendido rápido para ganhar sua parte na negociata. Hoje é impossível imaginarmos em nossos times um Castilho, um Zico, um Roberto Dinamite, exemplos de jogadores que se dedicaram de corpo e alma aos seus clubes, numa época em que os salários nem longe se pareciam com os atuais.

Hoje um bom jogador de um grande time, se não for dos especiais, selecionáveis, ganha em torno de 100 a 200 mil Reais por mês e tem uma vida extremamente ocupada. É muita boate pra dançar, muito whisky pra beber, muita cocaína pra cheirar, muita BMW pra pilotar, muita entrevista pra dar, muito show de pagode pra prestigiar. São muitos puxa sacos para o adular e tirar casquinha, muitas moças generosas querendo participar do seu harém, isso quando não tem que, vez por outra, enterrar alguma no quintal da própria casa.

Como se vê, quase não sobra tempo ao craque para se dedicar e ser um atleta de ponta, que é o que se espera de jogador de futebol de grande time.

E se ele for dos especiais, dos selecionáveis, aí a coisa complica muito. Aumenta de forma monstruosa. Esses têm absoluta certeza de que podem tudo. Ganham, em média, entre 500 mil Reais e 1 milhão de Dólares por mês e consideram que não têm nenhuma responsabilidade sobre coisa alguma, quanto mais em relação aos clubes que também fingem defender.

Vivem fora de forma. Faltam aos treinos. Jogam quando querem. Conseguem perder a cabeça e serem expulsos aos 10 minutos do 1º tempo, deixando o clube que tanto neles aposta 2 jogos sem suas participações, e tudo bem. Nada os abala. Nem ninguém diz nada. É isso mesmo, e pronto.

Há tempos vi, na TV, um especial do tipo “Ricos e Famosos” sobre o craque inglês David Beckham. O apresentador, acostumado com super astros de Hollywood, estava espantado. A vida que Beckham e sua esposa levavam superava em muito a de qualquer um deles. Em glamour, ostentação, compromissos etc. O cara todo dia tinha que ir ao seu escritório, cuidar de seus muitos interesses, elaborar novos produtos para suas marcas, viajar a todo instante para diversas partes do mundo para inaugurar ou participar de eventos sem nenhuma relação com futebol. Fora as 3 festas por semana que, em média, dava em sua mansão em Madri, e que eram as maiores que a cidade já viu. Isso no momento em que era contratado do Real Madri e ganhava o maior salário do futebol mundial. Teria ele condições de ser o atleta que o clube, pelo menos em tese, desejava? É claro que não.

A vida de quase todos os craques do futebol atual não é muito diferente. E tudo isso com a compreensão e até incentivo de dirigentes e empresários, seus verdadeiros “patrões”, que parecem achar tudo muito natural. Evidente é que tal situação só é possível porque todos estão ganhando, direta ou indiretamente, com a situação. No Brasil, então... Qual imbecil que, por força de influência, amizade, trabalhe na diretoria de um grande clube, tentará enquadrar um superstar desses? Sem chance. Na maioria das vezes o bom dinheiro que esses “diretores” imerecidamente embolsam todos os meses tem alguma coisa a ver com certas condições obscuras nos contratos dos craques. São uns “manés”, que não conseguiriam emprego em lugar nenhum. Vão reclamar de quê? Acham tudo muito razoável, claro...

Que profissional, em qualquer ramo de atividade humana, ganha um salário desses e não tem responsabilidades correspondentes? Um bom executivo, para ganhar muito menos que isso, tem que ter uma formação acadêmica de primeiríssima, enorme experiência, se reciclar continuamente, trabalhar 18 horas por dia, debaixo de um stress terrível, e não tem direito a ter faniquito, não. Muito pelo contrário. Dele se espera que, se o mundo acabar, ele saiba que providências tomar.

Jogadores podem agir irresponsavelmente e tudo bem. Dirigentes podem enriquecer armando falcatruas que vão arruinar seus clubes e tudo bem. E nós, torcedores? Temos mesmo que torcer por eles? Devemos fingir que não estamos vendo nada e continuar apoiando essa patifaria? Temos que, com nossa complacência, avalizar os Eurico Miranda, os Cléber Leite, os Horcades etc, etc? Por quê? É só dinheiro transitando pra lá e pra cá, numa lavagem sem fim do mesmo. E os “diretores”, meros testas de ferro encobrindo sabe-se lá o que.

Esse tipo de situação, com certeza, não faz parte do conjunto de atitudes compatível com o advento desse Novo Mundo que, hoje em dia, vivemos apregoando como necessário para a continuidade de nossa vida planetária. Quem não está nem aí para a renovação de valores que os novos Ciclos Civilizatórios impõem, tende a apodrecer e morrer junto com o que se fecha. Um Ciclo desses não acaba em 15 minutos, que coisa tão longamente impregnada não pode ser mudada assim. Mas tende a desaparecer. Assim como foi com o Império Romano, com o Egípcio, com a URSS e tantas invenções humanas “poderosas”, aparentemente inexpugnáveis. O mundo todo está sendo passado a limpo. E a receita do futebol está furada. É muita grana sendo aplicada para espetáculos tão pálidos, sem graça. Ninguém ousa mais dizer o que realmente está em jogo, quais os verdadeiros objetivos dessa maluquice toda.

Ou o futebol muda, se adaptando aos valores dos novos tempos que já se fazem manifestados, ou vai sucumbir, com tudo mais que, por incompreensão dessa realidade, está ruindo. Domingo tem Espanha X Holanda. Inédita final. Melancólica mensagem às pretensões de arrogantes como Dunga, Maradona e tantos outros. Com a participação especialíssima da Jabulani, a bola que tantos transtornos causou. Nunca tantos chutes certeiros se desviaram a 5 metros do gol. Nunca tantos efeitos dados à bola num sentido tomaram rumos tão contrários. Nunca tantos chutes despretensiosos foram acabar dentro das redes. Nunca tantos goleiros de qualidade tomaram frangos tão constrangedores. Ela é um desconcerto só.

Acredito que Jabulani, em Zulu, deve significar “Deus tá vendo”, algo do gênero. Agora é esperar o resultado. Vamos ver quem ganha essa parada. Espanha ou Holanda. Quem perde eu sei bem. Todo aquele que continua sem ter olhos de ver.

Grande abraço a todos.
Que Deus continue gostando de nós.

Johannesburg, 8 de Julho de 2010.

Wilson Nunes.

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